Sinopse:
Por Felipe Bragança (Revista Contracampo)
Primeira obra-prima de Eduardo Coutinho,
filme seminal de seu modo de fazer cinema, influenciando para sempre a história
do documentário brasileiro.
Teodorico é um coronel, dono de uma vasta
fazenda e de muitas pessoas. O olhar de Coutinho sobre aquele homem é o olhar
de um documentarista nato descobrindo seus métodos: "Queria fazer um filme
sem narração off ", diz Coutinho. E fez.
Influenciado pelas possibilidades do som
direto em escapar melhor da malha fina dos censores, Coutinho consegue extrair
de um coronel nordestino tudo aquilo que não poderia ser dito por outra voz:
Todo narrado pelo próprio coronel Teodorico
Bezerra, o filme é uma espécie de auto retrato da elite nordestina, com seus
cacoetes ingênuos de poder e suas manias de grandeza (a cena do desfile da
fazenda é antológica!). Coutinho se cala diante daquela realidade e se resume a
observar... a ouvir com atenção todos os detalhes daquela figura mítica que se
descortina.
Aos poucos, o coronel Teodorico Bezerra conta
suas manias, seus jogos de poder, seus modos de controle. Mostra, orgulhoso, as
frases pintadas nas paredes de todas as casas de suas terras onde estão
escritos seus mandamentos: "Não é permitido beber, não é permitido jogar
baralho, não é permitido fingir-se doente para não trabalhar..."
Autoritário, Teodorico mostra com orgulho
suas ferramentas de controle econômico e político, disserta sobre a importância
do voto de cabresto, revela jogadas políticas para melhorar as condições de
suas terras. O filme todo é esse observar cuidadoso de uma figura complexa e
apaixonada pelo seu modo de vida, que se abre às perguntas simples de Coutinho
e se deixa capturar pela imagem.
Nas poucas entrevistas com trabalhadores
rurais, a presença do coronel se faz marcante e Coutinho permite que essa
opressão se realize diante da câmera. O coronel pergunta: "Você acha que
existe lugar melhor para se viver do que aqui?...", o empregado responde,
"Não, claro que não".
Essa capacidade de Coutinho em descobrir os
traços da realidade na própria
maneira
com que a pessoa constrói seu imaginário para a câmera é o que faz do filme uma
das obras documentais mais importantes do país. Registro histórico e atemporal
de um homem ícone, Teodorico é um raro filme de observação do imaginário de
poder arcaico dos coronéis nordestinos.
As fotos de viagem pelo mundo, a coleção de
fotos de mulheres nuas, a fila de crianças que respondem prontamente que só o
que sabem fazer é trabalhar... são fragmentos de uma personalidade que se
entrega na própria franqueza orgulhosa:
Em certo momento diz que seus funcionários
são como escravos, defende a inferioridade do nordestino em relação aos homens
do sul, revela não pagar estudos para as crianças para que elas não "fujam
da fazenda para a cidade grande..."
Coutinho já disse certa vez que por vezes se
arrepende de tê-lo deixado falar demais... Discordo. É nesse excesso de
liberdade narrativa que Teodorico se desvenda para o filme.
O diretor pergunta pouco, é verdade, mas é
preciso em suas perguntas: numa das poucas vezes em que ouvimos sua voz,
Coutinho vai direto na ferida: "O senhor não se sente muito sozinho?"
Silêncio. Coutinho quase põe Teodorico às lágrimas... Mas ele logo se
recompõe... e apruma o corpo.
Um genial retrato do imaginário de um homem
poderoso do nordeste, colocado de forma crua como nunca antes e nunca depois.
Sem o uso de interpretações pré ou pós-filme, Coutinho descobre na voz do outro
uma brecha especial na criação de imagens livres.
Um filme único e inaugural, de um dos cinemas
mais vigorosos da atual cinematografia brasileira.
Obrigatório.
Dados
do Arquivo:
Direção: Eduardo Coutinho
Qualidade:
TVRip
Áudio: Português
Tamanho:
348 MB
Duração:
00:48:35
Formato:
AVI
Servidor:
Mega
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Download:
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Meu caro, poderia por favor postar novamente essa pérola preciosa do cinema documental.
ResponderExcluirMuito agradecido pelo excelente trabalho de difusão do conhecimento que você faz nesse blog, abraço.
Olá Gabriel.
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Obrigado pela visita e comentário.