Linha de Montagem (1982)


Sinopse:


No ano de 1981 sindicalistas liderados por Luis Inácio Lula da Silva comentam e refletem acerca das históricas greves ocorridas em São Bernardo do Campo em 1979 e 80. Estas greves marcaram a transição da ditadura para a democracia e o surgimento de forças e personagens no movimento sindical e político São Bernardo do Campo é uma cidade moldada pela indústria. Na década de 1950 muitas fábricas automotivas se instalaram na região, atraídas pelo acesso estratégico ao mercado consumidor (São Paulo) e ao Porto de Santos.

Mercedes-Benz, Karmann-Ghia, Scania e, sobretudo a imensa fábrica da Volkswagen, passaram a dar o tom do cotidiano local. Vilas, mercados, transportes se organizaram em torno das fábricas e milhões de trabalhadores se instalaram em suas proximidades.

No início daquela industrialização, de produtos pesados baseados na metalurgia, havia muitos riscos no ambiente de trabalho e a remuneração era baixa. A vida dos operários e de suas famílias era simples e com muitas restrições. Se naquela época a precariedade era quase como uma conseqüência lógica, visto que se tratava de uma situação nova, ainda em processo de consolidação, era de se esperar que com o tempo o quadro evoluísse. Mas, por força da famigerada ditadura militar, cravada no meio de nossa história recente, o que de fato ocorreu foi o agravamento das más condições.

Grosso modo, os militares empreenderam um projeto econômico atrelado ao capital estrangeiro, comprometendo-se com dívidas e tendo que enxugar o orçamento interno. Isso teve impacto direto na vida dos trabalhadores dos mais baixos escalões. Sem aumento real e com a inflação correndo solta, eles viram seu poder aquisitivo diminuir mais e mais.

Além disso, os trabalhadores também foram podados de seu poder de organização e reivindicação. A repressão foi o instrumento usado pelos governantes da época da ditadura para impor aquele modelo econômico, amordaçando qualquer manifestação contrária. No coração do capitalismo, o movimento operário foi o primeiro alvo, no início do golpe, em 1964.

Vários embates com a polícia se sucederam a partir de então. Entre eles greves históricas, que ajustaram os rumos do país, expuseram os interesses escusos da ditadura e revelaram lideranças e novas caras da política e do movimento social. Conforme as reivindicações apareciam a repressão policial se intensificava. No fim dos anos de 1970 o grau de tensão já era irrecuperável.

O estopim do desgaste foi quando, em 1977, o DIEESE divulgou que os dados da inflação de 1973 haviam sido manipulados, reduzindo, desta forma, o reajuste nos salários dos trabalhadores (que se baseava no índice de inflação). Aquela descoberta deflagrou um grande movimento pela reposição salarial, que sintetizou o descontentamento que os trabalhadores vinham alimentando contra o governo desde 1964. Depois disso o movimento cresceu e não se intimidou perante a repressão.

O documentário expõe o desenvolvimento das greves de 1979 e de 1980. O então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luis Inácio Lula da Silva, em reflexões colocadas no filme, define, entretanto, o período das grandes greves do ABC como um processo que começou em 1977, com a campanha pela reposição salarial, e se concluíu 1980, com a campanha salarial e pela restituição da diretoria do Sindicato. Para Lula, em entrevista sobre o filme no ano de seu relançamento, não havia espaço na imprensa para o movimento sindical. Linha de Montagem, desta forma, serviu, como forma de divulgação daquele movimento.

Rico em detalhes, o filme contextualiza a região de São Bernardo do Campo no fim da década de 1970, contando com cerca de 140 mil operários nas indústrias automobilísticas naquele momento. Naquele contexto moldado pela indústria, em maio de 1979 os metalúrgicos interromperam a produção das fábricas do ABC deflagrando uma greve geral da categoria por 11% de aumento salarial. A cassação da diretoria e a intervenção do Governo Federal no Sindicato, entretanto, deram um sentido maior àquela manifestação. Mais do que o salário, os trabalhadores reivindicavam seus direitos políticos e a restituição da diretoria eleita. A greve durou o quanto pôde, mas sem poder expor os trabalhadores a riscos maiores, teve que se encerrar no dia 25 de maio daquele ano, antes de atingir seus objetivos.

Mas, mesmo sem conseguir os 11% o movimento ganhou em consciência e em organização. Com as dificuldades políticas e econômicas que assolavam o movimento houve a necessidade de buscar soluções alternativas. Foi instituído, então, o fundo de greve e criada a Associação Beneficente e Cultural dos Metalúrgicos do ABC e Diadema, instâncias nas quais o movimento passou a se apoiar. Este foi o saldo positivo de 79.

Sustentado por esta estrutura, em março do ano seguinte os metalúrgicos iniciaram outra greve por 15% de aumento salarial, agora com mais experiência. Mas a repressão policial, em estado de alerta em relação ao Sindicato de São Bernardo, foi ainda maior e os diretores do sindicato foram presos e processados pela Lei de Segurança Nacional.

A greve de 1980, que acabou no dia 12 de maio, também não atingiu seus objetivos econômicos. Mas ela consistia, antes de tudo, numa afronta à ditadura militar. O que estava em jogo era o fim do regime e a abertura democrática, um processo mais complexo, longo e, desta vez, bem sucedido.

Segundo Lula nestes três anos houve uma valiosa conscientização e a organização da classe operária que, para ele, se posicionava naquele momento, como agente social e sujeito da história. O aprendizado que Lula tiraria deste processo, foi que o sindicalismo servia à melhoria da relação entre capital e trabalho, e que, no Brasil, ele só conseguiria promover mudanças na sociedade uma vez que se organizasse politicamente. Ele fala da necessidade de se criar um partido e que os partidos existentes até então, mesmo com seus militantes tendo forte atuação e liderança nas greves, não atendiam suas concepções políticas e ideológicas. Lula justificou, desta forma, a criação do Partido dos Trabalhadores. E, naquele ano de 1981, quando se realizou o 1º Conclat, afirma a necessidade de se criar centrais sindicais, como forma de organizar aquele movimento que estava crescendo e se fortalecendo.

Embora isso não fique claro no filme foi um processo empreendido por várias forças, não apenas pelos metalúrgicos de São Bernardo, mas apoiado também por outras correntes políticas e sindicais.

O filme foi lançado pela primeira vez em 1982, mas logo censurado pelo governo federal. Foi restaurado e relançado em 2008.


Dados do Arquivo:

Direção: Renato Tapajós
Qualidade: TVRip
Áudio: Português
Tamanho: 689 MB
Duração: 01:27:54
Formato: AVI
Servidor: Mega


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